terça-feira, 8 de março de 2016

Trens de Moscow 3 - O maluco da composição
Em uma longa viagem tudo pode acontecer, principalmente se todos que estão ao seu redor não falam uma única palavra que você entenda e é a sua primeira vez nesse trem. Porém, para não deixá-los com a impressão de que só teve derrota, vou contar o que aconteceu, digamos, com um amigo.
De acordo com as informações do site, o trem pararia em algumas estações e estava indo em direção à Sibéria. Em cidades micros, ele pararia por apenas alguns minutos. Em cidades maiores, a parada era também maior. Em Kostroma era esperado que o trem parasse por 25min. A previsão de chegada lá era 6h45.
Como eu, ops, quer dizer, esse amigo não fazia ideia de como funcionava o desembarque ou mesmo se era avisado, ele colocou o despertador do celular para alertá-lo um pouco antes, por volta das 6h30.
Uma leve piscada o fez perceber que o trem estava parado em uma estação e já era dia. Ele pegou o celular para conferir a hora e, para seu desespero, viu 6h50. Fração de segundo se passou até rolar o desespero “Putz, não despertou !!!”.
Saltei (ah, dane-se, foi comigo mesmo) da cama num pulo e no segundo seguinte estava com o tênis no pé, estilo sandália. Peguei os quase 30 quilos das duas mochilas, joguei de qualquer jeito nas costas e corri para a saída gritando como um louco "Kostroma ??”. Um passageiro com olhar vago, estilo Walking Dead, fez cara de "Não faço ideia do que você está falando” e me ignorou. Corri para a porta da composição e estava trancada. Ao lado era a porta da cabine da "comissária de bordo”. Bati na porta desesperado perguntando "Kostroma ???”, mas ela não deu papo, sequer abriu a porta.
Voltei para a cabine resignado, já pensando no que eu perderia, pois gastaria um tempo precioso para voltar da próxima cidade. Sair pela janela também não era opção. Sentei na cama com aquela cara de “fiz m” e olhei novamente as horas. Para minha salvação, eram 5h55.
Foi como ganhar na loteria ! Às 6h30 a comissária apareceu para me avisar que minha estação era a próxima, tudo na base da mímica. Notei um sorrisinho de canto de boca, provavelmente pensando “Esse era o gringo maluco que estava gritando na minha porta”.
O.O
Algumas dicas:
- As “comissárias de bordo” não falam uma palavra de inglês e no embarque fazem cara de poucos amigos, mas ao me “acordar”, serviram chá e avisaram do momento de ir ao banheiro. Fazem isso para evitar filas nos corredores;
- Elas não só acordam você como irão se certificar de que você deixará o trem na estação indicada no seu bilhete. O valor pago depende da cidade para onde se vai;
- Nesse trem as opções eram restritas. Era chá ou nada, a seu gosto. No entanto, no trem de e para St Peter, você recebe um lanche completo assim que chega na cabine. O trem lá também é mais rápido e confortável, fora que os tipos que viajam nele são menos … digamos … exóticos;
- Você não precisa aprender russo para ir à Russia. Porém, levar anotado algumas palavras mais comuns (como se escreve e como se pronuncia) vai salvá-lo em muitas ocasiões. Só não deixe de colocar nessas anotações os nomes das cidades que você pretende visitar. Kostroma por lá se fala KostrAma. Eu acho a diferença mínima, mas eles não entenderão se você não falar do jeito correto.
Dasvidaniya !
Estação de Kostroma - Russia 
Cabine segunda classe do trem para St Peter


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