domingo, 3 de abril de 2016

Hastings e o portal 

Toda cidade, por mais interessante, bonita e bem cuidada, sempre vai ter um ponto onde a segurança não é boa ou, no mínimo, você não deve ficar de bobeira. Já passei por vários lugares que não inspiravam confiança, mas nenhum deles foi igual ao portal do inferno da Hastings, em Vancouver. Sabe o episódio que contei aqui, do mendigo que parecia um guia turístico com pós em economia? O causo de hoje aconteceu um dia antes dele, e o nosso "guia" bem que avisou. 
A Hastings é uma grande avenida que, como muitas no Canadá, cortam a cidade. É bem comum por lá avenidas que chegam a cruzar todo um estado. Acho que não é o caso da Hastings, mas ela decerto cobre o centro e outros bairros por ali. Terminamos a aula do dia e partimos pela Pender Street para conhecer Chinatown, o bairro chinês que fica ao lado do centro. No caminho topamos com uma loja muito doida, literalmente! Uma loja inteira dedicada à Canabis. Isso por si só era mais que inusitado para nós. A loja tinha de tudo pra quem queria apertar mas não acender na hora. Vendia mudas e produtos a base de maconha. O cliente saia dali cheio de sorrisos e foi engraçado e curioso assistir a um pouco disso. 
Continuamos nossa odisséia rumo ao lugar dos chinas. Chinatown tem em tudo que é lugar. Já conhecia a Chinatown de Toronto e a de Vancouver estava quase ali. É a maior do Canadá! A entrada do bairro tem um portal bacana chamado Millennium Gate e tudo por lá tem o toque da decoração oriental. Dragões estavam em tudo que é lado.
As quitandas e mercearias, lotadas de artigos da culinária chinesa, eram muito interessantes. Tinham de tudo, de vegetais estranhos a cogumelos esquisitos, de peixes ressecados a lagartos crucificados. Tinha que ter estômago, pois o cheiro não era dos melhores. Ok, chega de ser politicamente correto. Fedia muito!!!
Ficamos nos divertindo por lá e tirando fotografias a cada quitanda. Veio o açougue e para mim foi game over. Joguei a toalha e falei para os amigos que já estava embrulhando de ver aquelas comidas. Eu não era o unico, mas já estávamos longe, era hora de voltar. Nosso plano era contornar o quarteirão, passando na frente de um parque que tem lá , e pegarmos o sentido contrário. Eu ia um pouco mais a frente do grupo, já que alguns ainda estavam tirando foto fazendo cafuné no lagarto ressecado e crucificado. Nem virei bem a esquina e notei que havia algo estranho. 
As pessoas daquele ponto em diante eram muito estranhas. Muitos vinham na nossa direção com olhar vago, longe. Num meio-fio, um cara vomitava. No outro lado, uma mulher andava com cara de zumbi e era seguida de perto por outra, mais velha. Nessa altura, nossos amigos já tinha se reagrupado. Todos atonitos: tínhamos atravessado o portal do inferno. Mais a frente uma mulher com a calça moleton, toda mijada, vagava estranhamente. Se ali fosse a porta de um cemitério, eu não saberia dizer se ela estava chegando ou saindo. Muito surreal.
O cenário de filme de terror tinha um motivo. Logo a frente da esquina, do outro lado da calçada, um cara sentado numa dessas cadeiras universitárias atendia a uma fila quilométrica. Estávamos dentro da boca de fumo de Vancouver. Passamos por um gueto daqueles bem típicos de filme, com uma turma nada bonita aquecendo-se no fogo de um latão e apertando um cachimbo da paz. Uma de nossas amigas, não sei se atendendo ao seu instinto jornalístico ou por não ter percebido a natureza do local onde estávamos, tirava fotos de tudo alegremente. Falei "Roberta, hoje não é um bom dia para morrer! Já olhou onde estamos? ". Saída pela direita! 
O.O
Algumas dicas:
- Não vá para o final da Hastings; 
- Chinatown vale a visita, mas prepare o estômago nas quitandas e açougues;
- Há uma estranha aceitação ou conivência com drogas por lá. Em um dos dias, andando pelo Stanley Park, a marola estava fortíssima!

Take care !

A lojinha da Maria Joana

Millenium Gate

Decorações chinesas


Uma quitanda de produtos típicos

Eca !

O beco onde quem entra não sai :D