terça-feira, 8 de março de 2016

Brasileiro é onipresente

Dizem que tem brasileiro em tudo quanto é lugar. Isso é até uma boa constatação, já que depois de ouvir língua de gringo o tempo todo, é um grande refresco para os ouvidos escutar o português. Nada me remete tanto a essa figura do brasileiro onipresente quanto o que ocorreu comigo no México, já no final do ano 2000.
Estava trabalhando para uma multinacional ligada à serviços de TI. Era o que ficou conhecido como bolha da Internet, com empresas faturando muito e pagando muito bem. Foi o primeiro e único local onde trabalhei que, na contratação, recebi luvas. Senti-me na época como um jogador de futebol!
Tão logo as operações no Brasil começaram, fomos mandados à Cidade do México para um treinamento em Vignette, ferramenta poderosa de publicação de conteúdo hoje presente nos maiores portais de Internet do mundo. A viagem começou estranha para mim, já que minhas malas foram extraviadas e levaram quase dois dias para chegar. Quando chegou, cai na besteira de lustrar meus sapatos com uma espécie de Nugget fornecido pelo hotel. Aquilo corroeu meu sapato em minutos e tive de usar tênis e jeans ao invés de uma roupa mais formal. Isso não foi problema em uma empresa onde as pessoas andavam com cabelos verdes e de patinete pelos corredores. Tempo bom esse da bolha de Internet!
Pausa para eu contar um causo dentro do causo.
A Cidade do México do ano 2000 era bem diferente de como está agora (eu a revisitei no final de 2015). Policiais andavam altamente armados, até granada tinham no colete. Hora do almoço, fomos para o restaurante sugerido para que todos pudessem almoçar juntos. Não obstante o buraco de tiro em uma das vidraças, o restaurante parecia bom. Serviram-nos uma galinha com uma cara muito estranha. Olhei, olhei, olhei ... meu amigo e diretor que estava conosco perguntou:
- Que cara é essa, Tony ?
- Estou sem coragem para orar agradecendo a comida ...
Muitos risos na mesa e uma colega solta a pérola:
- Eu sei fazer frango. O meu não fica com essa coisa verde não!
Game over no almoço. Tive de recorrer a um omelete depois.
Retomando o fio da meada, primeiro dia de aula e o professor não apareceu. Problemas no vôo. Oportunidade para turistar ! Corremos para o hotel e marcamos um passeio de táxi até Teotihuacan, cidade com ruínas incluindo piramides.
Pausa para um novo causo dentro do causo.
Apesar de não ter tanto tempo assim, o trânsito por lá era mais do que caótico. Vimos vários exemplos surreais, como o motorista que largou o carro no meio do trânsito para cumprimentar o amigo na calçada. Pelo que pudemos entender, as regras de trânsito eram meio soltas, não havia lá um similar ao Detran. Não foi surpresa o taxista nos contar que a regra implícita de preferência nos cruzamentos era para o mais "conhecido" ou influente. Ficamos intrigados sobre como tal regra implícita funcionaria até termos uma demonstração. O taxista parou no cruzamento e havia outro carro também. Ele ameaçou cruzar quando notou que o outro carro também estava avançando. Ele freou bruscamente o carro, colocou quase meio corpo para fora da janela e esbravejou:
- Es maluco? No me reconoces? Mira acá (Ou algo parecido).
Surreal, mas era assim.
Chegamos em Teotihuacan e o taxista, que também era guia, passou a nos explicar detalhes do lugar. Fomos liberados e corremos a subir a enorme pirâmide da Lua. Quase no topo não havia degraus, eram mais um amontoado de pedras. A maioria parava por ali, mas nós não estávamos vindo de tão longe para desistir assim. Continuamos numa quase escalada. Chegamos no topo da piramide. Hora de descansar e admirar o vale de lá de cima, mas fomos interrompidos por alguém que, subindo, quase escorregou. Não tinha dúvidas, era um brasileiro! Suas singelas palavras ao escorregar foram:
Opção 1) - Puxa, que susto. Quase caio desse local bacana!
Opção 2) - Por..., que mer..., quase caio lá na pqp! Pedra filha da p...
Sorrimos dando as boas vindas ao espírito da Dercy Gonçalves ...
O.O
Algumas dicas:
- A Cidade do México melhorou sensivelmente de 2000 para cá. Por ser enorme, há locais mais pobres onde a sensação de segurança é menor. Em muitos, convém tomar precauções normais para uma grande cidade;
- A rede metroviaria é vasta e acessível a partir do aeroporto, embora a estação não seja dentro dele (andei uns 5min). Esse trajeto é ermo de noite;
- Teotihuacan é muito legal para quem curte história e ruínas. Leve protetor solar e disposição, porque é muito grande. Não gaste em excursões para lá. Pegue o metro, solte na estação Autobuses del Norte. Essa é uma estação de ônibus com saídas para várias cidades do interior incluindo a Zona Arqueológica de Teotihuacan;
- O parque Chapultepec vale a visita. Há vários museus lá e o próprio parque é muito agradável. Há um castelo museu, mas não consegui tempo para visitá-lo;
- Algumas estações do metrô não tinham identificação (eu procurei muito e não achei). Normalmente, as de superfície. Logo ao entrar no vagao, fique de olho no mapa de estações e vá contando as paradas. Você pode ser chato e ficar perguntando toda hora também;
- Metro em horário de rush é lotado em qualquer lugar do mundo;
- A praça dos Mariachis é pitoresca, mas não aparenta ser segura;
- Nas imediações do Zocalo há ótimos restaurantes de comida tradicional Mexicana;
- Burrito al Pastor e suco de Horchata. Ambos imperdiveis.
Hasta Luego!

Horchata ! Bebida deliciosa

Pirâmide do Sol - Teotihuacan

Igreja no Zócalo

Aeroporto de Ciudad del Mexico


Burritos e Frijoles refritos

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